domingo, 10 de novembro de 2013

A casa e o xodó.


A minha grande companheira.





Amanheceu. O corpo.


Hoje amanheci oca, muda , sem pés e acolhida pela solidão. Acordei abraçada pela minha sombra sob o Rio banhado de lágrimas. Sem sol, sem coração com uma saudade medonha. 
Restos de uma carcaça vazia. E pensamentos atormentados vagando em outro lugar. No meu lugar, na minha Belém.
Hoje, apenas meu corpo amanheceu. 

sábado, 2 de novembro de 2013

Um coração , um cachorro , o sofrimento.

                                                               Vila da Ressaca, 18 de outubro de 2013.

            A dor tem tomado conta de mim por essas bandas no Xingu...
          O fato é que eu não consigo mesmo lidar com o sofrimento. Nem com o meu, muito menos com o dos outros. E ver o sofrimento de perto, é destruidor pra qualquer coração.
          O exílio têm machucado meus ossos, mas essa semana o meu sofrimento aumentou quando presenciei um cachorro doente, à beira do Rio. Estava com um ferimento aberto, onde o osso de um dos pés estava quebrado e estava para fora. O animal pouco se movia. Estava inquieto com aquilo. ( E quem não ficaria? )
           Eu falei com o enfermeiro do posto para que me ajudasse com algum remédio para passar ou aplicar no cachorro. O homem pediu que eu passasse no outro dia com ele e pegasse os tais medicamentos, e mesmo assim não me deu muita atenção, perguntou se eu tinha coragem de limpar aquele ferimento e disse que eu era muito corajosa pra fazer isso. Porém, o enfermeiro não apareceu no dia para que eu pegasse os medicamentos. E foi uma das piores noites, porque quase não dormi pensando na dor que aquele cachorro estava sentindo. E que eu poderia fazer alguma coisa, qualquer coisa...
           Passado uns dias, como sempre pelas tardes, descia até a beira do Xingu para telefonar e foi quando me deparei com o sofrimento em carne e osso, apodrecendo vivo! A perna do bicho estava mais da metade putrefada. Aquela imagem me deixou em estado de choque. Não sabia o que fazer, mas me sentia responsável por ele, pois apareceu pra mim e fez com que eu o visse daquela forma. Com o olhar perdido pedindo ajuda ao infinito. Não contive as lágrimas. Foi a pior cena que vi por aqui. Comecei a pensar do porquê daquele bicho estar daquele jeito, o quê aconteceu pra que ele chegasse naquele estado, e por quê todo mundo que passava por alí, não ajudava o animal? Por que? Por que?
         Eu chorei em cima do bicho e pedi desculpas por não poder fazer nada por ele. Meu coração sangrou de maneira brutal. Fiquei alí, fazendo companhia pra ele durante um tempo, depois não tive mais condições físicas e psicológicas de presenciar aquela vida padecendo e então voltei para a casa. Não dormi quase nada e só pensava que aquilo tinha que acabar logo. Não tive mais coragem de voltar a ver aquele cachorro. E não fui mais à beira, até viajar para Belém.
      E na manhã da viagem, desci apreensiva para pegar a voadeira bem cedo. Eu só não queria vê-lo, desejava que ele tivesse parado de sofrer.
      Na descida da rua, vi um pedaço de couraça de animal, e engoli um alívio. Me aproximei já da voadeira e de longe vi uns urubus disputando um pedaço de carniça. Acho que era ele.
       Pronto, a criatura indefesa parou de sofrer. Mas a culpa nunca deixará de perturbar minha cabeça.
      E talvez minha mãe estivesse certa com o pensamento sobre este fato. Disse a mim que isso deveria ser um fato natural por aqui. Não deveria ser o último animal a morrer desta forma e nem deveria ser o último. Com estes dizeres , meu coração aliviou-se um pouco.
           

                                                                                                                                        

                                                                                                                                       Laila Maia.

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