Queria fazer um pedido aos amigos simpatizantes e ativos dos movimentos contra Belo Monte: estou precisando de materiais de TODO TIPO - impressos e por e-mail (lailamaiac@gmail.com) para maiores esclarecimentos em torno da empresa que está acabando com a vida no Xingu, pois estou ministrando aulas em uma comunidade chamada Ressaca, que está sendo afetada diretamente com as barragens, por isso pretendo esclarecer melhor através das aulas, sobre o assunto a esta comunidade. E qual melhor meio senão a educação para ajudar?!
Por favor, quem puder ajudar ou souber quem possa ajudar, me dê o papo.
sábado, 28 de setembro de 2013
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
terça-feira, 24 de setembro de 2013
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Ganhei um xodó.
No turno da noite, tenho um aluno de verdade matriculado e uma aluna que quer ser de verdade matriculada.
Essa coisa linda se chama Rosa. É uma arara da espécie Maracanã e vive solta pela comunidade, e pra minha alegria ela escolheu a casa da dona Rosinele para viver.
A Rosa morava com uma outra senhora que vivia na Ressaca e morreu ano passado. Daí ficou por lá, e é livre, cheia de vida e adora um cafuné.
Voa por todos os lados e adora fazer visita às casas. Volta e meia dá uma espiadinha nas aulas, e nas crianças correndo na hora do recreio.
Voa por todos os lados e adora fazer visita às casas. Volta e meia dá uma espiadinha nas aulas, e nas crianças correndo na hora do recreio.
Essa Curica é geniosa que só ela. É danada e quando quer algo, tem que ser na mesma hora em que solicita, porque
senão.... voa em cima dando beliscadas fortes. Eu mesma, já coleciono algumas cicatrizes desses surtos dela.
É ela quem me acorda todos os dias bem cedo, por volta de 6h15. Desce do canto onde dorme , pelos punhos da minha rede até alcançar o mosquiteiro e, acima da minha cabeça, ela começa a resmungar alguma coisa na língua dela. E só se quieta quando eu levanto o mosquiteiro e coloco ela bem em cima do meu lençol. Ela se ajeita pra se aquecer um pouco e logo depois começa a sacanagem dela: se joga, rola de peito pra
cima, malina... é uma graça! Depois das
peraltices da arara, levanto pra banhar (não no Rio), no chuveiro mesmo. Depois tomo meu café ao lado
de alguém da casa, ou mesmo com a curica. Em seguida, com roupa já de professora,
passo um lápis preto no olhos, ajeito os diários de classe e só atravesso a
rua, e já estou no meu trabalho.
Volta e meia, ouço os gritos da arara se aproximando, já passeando pelo meio da gente. Se sentindo gente e me deixando de coração abobalhado pela companhia inusitada de todos os dias.
Vivência.
Ressaca, 16 de
setembro de 2013.
Retrato do celular.
Os dias têm sido cansativos e
estressantes ( lidar com os meninos de 5ª à 8ª séries tem sido um sufoco pra não dizer um inferno. E eu até
subestimei, na minha mentalidade tola de que os meninos da zona rural eram mais
quietos e tal, mas eu mordi a língua. A coisa tá feia aqui também... Os
moleques são tão endemoniados quanto os da cidade). E a minha carga horária é extrapolação, pois trabalho os três turnos, com duas turmas em cada um.
Começo assim: acordo às sete horas,
quando a arara - a Rosa - desce do canto dela em cima do quarto onde durmo, equilibrando-se sobre minha rede, por cima
do mosquiteiro, sussurrando a língua dela até me acordar. Daí eu levanto, faço um carinho nela e vou banhar no chuveiro de água frriiiiia. Depois, tomo um café e vou pra aula às 7h30. Aí, 12h volto pra almoçar e descansar um pouco até 13h30 (o próximo turno) até às 18h.
Ao final dessas tardes,quando o sol ainda não se pôs, ando uns 400 m para a beira do Rio para obter área no celular e é quando, respiro
aliviada, ao mesmo tempo em que meu coração se entristece pela distância tão
extensa de família e amigos. É que tenho um curto tempo, nos dias da semana (intervalo do 2º turno para o 3º turno de trabalho), consigo ouvir a voz da minha mãe, do meu namorado. É quando, algumas
vezes as lágrimas resolvem se juntar ao Xingu, quando este sopra um vento frio que arrepia os pêlos da
saudade enquanto toda a minha dor pesa sobre os ombros.
De lá consigo sentir o cheiro forte
da vida que o Xingu carrega , assistindo à grandiosos espetáculos que a vida em
si, proclama: gaivotas que pescam à beira do Rio ao lado de mulheres que lavam
suas roupas e louças nos girais improvisados, enquanto suas crianças banham, brincam e gritam. Os casais de
araras, papagaios e pássaros incontáveis declarando a liberdade. Os calangos
gigantes caçando sem o menor pudor. A Ressaca assistindo ao formidável filme
real. E... eu? Apenas vislumbrando a fabulosa cena que afaga e acalenta meu corpo
e meus pensamentos mais distantes.
Volto mais aliviada, em paz para o trabalho no
turno da noite, na certeza de rever no outro dia, tal espetáculo e ouvir as vozes dos meus amores.
O sofrimento tem sido diário, os
dias até têm passado rápido, quando no final das noites de trabalho, mais um
dia é riscado na folhinha. Mas tenho certeza que todo esse sofrimento será recompensado um dia.
Minha mãe mandou um celular inteligente pra aliviar um pouco toda essa distancia. Agora consigo no fb e já tenho whatshap (093 99703381) , podem me add porque eu não aprendi a usar isso ainda. E registrar uns momentos legais.
Outra novidade é que eu voltei às correspondências por cartas, tanto aqui no blog quanto com uma grande amiga que está morando em uma comunidade há umas três ou quatro horas de mim. Não há correio, mas um rapaz que trabalha para as escolas, sempre está indo pras estradas, o Aurélio. Nosso carteiro.
Até mais.
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Oi?!
Vila
Ressaca, 14 de setembro de 2013.
Carta
de uma sobrevivente urbana. Do Xingu para o mundo,
especialmente aos amigos da minha capital.
especialmente aos amigos da minha capital.
Bem, como não tive tempo de despedir-me dos
mais próximos - e até dos mais longínquos - vou contar-lhes como se deu meu
repentino desaparecimento, deste mundo on-line, marginal e “social”.
Pois bem, depois de seis meses formada, desempregada, procurando rumo
pra eu trabalhar, aguardando promessas e cansada de ser lisa, eis que no dia 10
de agosto de uma manhã de sábado em que o sol escaldava o asfalto, meu telefone
tocou e era uma das minhas amigas - a Luma, a qual estudei na universidade da
vida e acadêmica, na Vigia de Nazaré, me ligou com a seguinte proposta: “Laila, tu queres trabalhar mesmo? Arrumei
uma vaga pra ti aqui pra Altamira...”. E eu , no meu desespero em sair
dessa somatória dos maiores problemas sociais que o país enfrenta a séculos,
respondi na maior certeza que sim. E em seguida veio uma voz mais séria e
rígida do outro lado da linha: “ Tu tens
certeza?” E eu dei uma pausa curta
já com receio , respondi amedrontada: “Por
quê mana, qual o papo?” ...e depois de um pequeno suspiro, ela que já
estava confinada há pelo menos suas semanas em uma colônia à umas 3 horas de
Altamira, disse o seguinte: “Mana, é
interior né?! Energia elétrica é difícil, educação precária, quadro a giz,
gente muito humilde, um monte de outros problemas, né mana?!” E eu na ânsia por um trampo o quanto antes,
dei a certeza que eu queria e precisava trabalhar o quanto antes. Aí, por
último perguntei se valia à pena. Ela disse que sim, afinal éramos solteiras,
sem pinto pra sustentar, além da
experiência que teríamos no nosso currículo, e o quanto iríamos ajudar as
pessoas (até então não tínhamos experiências além dos nossos estágios
obrigatórios). Foi então que decidi que eu ia nessa missão. A Luma então, pediu pra que eu fosse comprar a passagem logo
para Altamira e de lá alguém iria me levar até a Vila Ressaca - o destino o
qual eu viria. E... aqui estou! Completando um mês, trabalhando de segunda a
sexta, ministrando aulas de Língua Portuguesa durante três turnos, da 5º à 8ª
série, ( ou do 6º ao 9º ano do ensino fundamental).
A Ressaca é bem pequena e é uma vila do
município de Senador José Porfírio. Está localizada à mais ou menos 80km da
cidade de Altamira. Há duas opções para chegar até a Vila: voadeira ou
carro. Pela voadeira, são duas horas de
viagem e os horários são limitados, também não tem viagens todos os dias e a passagem é 40$. Pela
estrada, gasta-se uma hora e trinta minutos e o acesso somente em carros
particulares, pois não há outra opção de condução.
O nome da comunidade se deu pelo
canal encurvado em forma de "U" com um baixo nivelamento da água, que segundo os
moradores antigos, é um “desvio” do Xingu que forma uma ressaca. A Vila foi
inicialmente habitada por garimpeiros que vieram de outros estados ou
de cidades próximas com a intenção de trabalhar por aqui. Segundo os mesmos, a Ressaca já foi mais povoada e mais agitada, e infelizmente não é mais, pois todos os garimpos da região foram
fechados e por isso grande parte da população foi embora. Hoje, há uma média
de 200 a 300 moradores. Esse trecho do rio está condenado pela hidrelétrica de Belo Monte, que vai secá-lo com a construção de um canal de 100 quilômetros, o qual criará um atalho reto entre uma ponta e a outra da Volta Grande, até chegar à boca da usina.
É um lugar desses bem interioranos
mesmo, com aqueles quintais imensos, cheios de árvores e animais por todo
canto. A energia foi uma das minhas surpresas, pois aqui somente por meio de geradores
motores. As casas são bem simples, de madeira, algumas com telhas brasilite, outras são cobertas por palhas. E todas as pessoas se conhecem e são compadres
e comadres umas das outras. hehehe
Tive
sorte de pelo menos ter sinal de telefone à beira do Xingu, que é onde o
celular tem área e fica a uns 400m da casa que eu moro. Por isso, se algum
amigo aí, tentou ligar e deu caixa postal, tá explicado o motivo. A internet
idem. Mas na casa em que estou morando, tem telefone fixo. Então galera, por
favor me liguem tocarenteprecisandodevocês (aos finais de semana, que é quando
tenho tempo.)
Tô alojada bem em frente da escola aonde
eu trabalho, na casa da diretora, a dona Rosinele. Uma pessoa super gente fina e muito receptiva. Tenho um quarto só pra mim, e na casa moram ela, o marido dela o seu Birica e os filhos, o Jhonatan, o Alan e a Rita.
E mais uns bichinhos os quais tem me deixado encantada: uma arara, um louro,
três cachorros, dois gatos, um jabuti e um monte de galinhas doidas.
No mais, acredito que consegui explicar meu
sumiço. Um grande abraço em todos e antes que eu me esqueça, tenho aprendido
muito por aqui, todos os dias. Não tô feliz, mas tô sobrevivendo. Busco ficar
tranquila pra não pirar, porque só eu sei das dificuldades sentidas aqui. To
tentando aprender com tudo e todas as pessoas aqui. Tenho sentido muita falta de
qualquer coisa em Belém. O sofrimento tem sido necessário e muito valorizado por
minha pessoa, mais do que tudo.
Vou ficando por aqui. Um cheiro
forte de priprioca e até a próxima.
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