sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Oi?!

                                                                                                       Vila Ressaca, 14 de setembro de 2013.

                                               Carta de uma sobrevivente urbana. Do Xingu para o mundo,
                                                                                           especialmente aos amigos da minha capital.

              Bem, como não tive tempo de despedir-me dos mais próximos - e até dos mais longínquos - vou contar-lhes como se deu meu repentino desaparecimento, deste mundo on-line, marginal e “social”.
    Pois bem, depois de seis meses formada, desempregada, procurando rumo pra eu trabalhar, aguardando promessas e cansada de ser lisa, eis que no dia 10 de agosto de uma manhã de sábado em que o sol escaldava o asfalto, meu telefone tocou e era uma das minhas amigas - a Luma, a qual estudei na universidade da vida e acadêmica, na Vigia de Nazaré, me ligou com a seguinte proposta: “Laila, tu queres trabalhar mesmo? Arrumei uma vaga pra ti aqui pra Altamira...”. E eu , no meu desespero em sair dessa somatória dos maiores problemas sociais que o país enfrenta a séculos, respondi na maior certeza que sim. E em seguida veio uma voz mais séria e rígida do outro lado da linha: “ Tu tens certeza?” E  eu dei uma pausa curta já com receio , respondi amedrontada: “Por quê mana, qual o papo?” ...e depois de um pequeno suspiro, ela que já estava confinada há pelo menos suas semanas em uma colônia à umas 3 horas de Altamira, disse o seguinte: “Mana, é interior né?! Energia elétrica é difícil, educação precária, quadro a giz, gente muito humilde, um monte de outros problemas, né mana?!”  E eu na ânsia por um trampo o quanto antes, dei a certeza que eu queria e precisava trabalhar o quanto antes. Aí, por último perguntei se valia à pena. Ela disse que sim, afinal éramos solteiras, sem pinto pra sustentar, além da experiência que teríamos no nosso currículo, e o quanto iríamos ajudar as pessoas (até então não tínhamos experiências além dos nossos estágios obrigatórios). Foi então que decidi que eu ia nessa missão. A Luma então,  pediu pra que eu fosse comprar a passagem logo para Altamira e de lá alguém iria me levar até a Vila Ressaca - o destino o qual eu viria. E... aqui estou! Completando um mês, trabalhando de segunda a sexta, ministrando aulas de Língua Portuguesa durante três turnos, da 5º à 8ª série, ( ou do 6º ao 9º ano do ensino fundamental).
             A Ressaca é bem pequena e é uma vila do município de Senador José Porfírio. Está localizada à mais ou menos 80km da cidade de Altamira. Há duas opções para chegar até a Vila: voadeira ou carro.  Pela voadeira, são duas horas de viagem e os horários são limitados, também não tem viagens todos os dias e a passagem é 40$. Pela estrada, gasta-se uma hora e trinta minutos e o acesso somente em carros particulares, pois não há outra opção de condução. 
            O nome da comunidade se deu pelo canal encurvado em forma de "U" com um baixo nivelamento da água, que segundo os moradores antigos, é um “desvio” do Xingu que forma uma ressaca. A Vila foi inicialmente habitada por garimpeiros que vieram de outros estados ou de cidades próximas com a intenção de trabalhar por aqui. Segundo os mesmos, a Ressaca já foi mais povoada e mais agitada,  e infelizmente não é mais, pois todos os garimpos da região foram fechados e por isso grande parte da população foi embora.  Hoje, há uma média de 200 a 300 moradores. Esse trecho do rio está condenado pela hidrelétrica de Belo Monte, que vai secá-lo com a construção de um canal de 100 quilômetros, o qual criará um atalho reto entre uma ponta e a outra da Volta Grande, até chegar à boca da usina. 
            É um lugar desses bem interioranos mesmo, com aqueles quintais imensos, cheios de árvores e animais por todo canto. A energia foi uma das minhas surpresas, pois aqui somente por meio de geradores motores. As casas são bem simples, de madeira, algumas com telhas brasilite, outras são cobertas por palhas. E todas as pessoas se conhecem e são compadres e comadres umas das outras. hehehe
            Tive sorte de pelo menos ter sinal de telefone à beira do Xingu, que é onde o celular tem área e fica a uns 400m da casa que eu moro. Por isso, se algum amigo aí, tentou ligar e deu caixa postal, tá explicado o motivo. A internet idem. Mas na casa em que estou morando, tem telefone fixo. Então galera, por favor me liguem tocarenteprecisandodevocês (aos finais de semana, que é quando tenho tempo.)
            Tô alojada bem em frente da escola aonde eu trabalho, na casa da diretora, a dona Rosinele. Uma pessoa super gente fina e muito receptiva. Tenho um quarto só pra mim, e na casa moram ela, o marido dela o seu Birica e os filhos, o Jhonatan, o Alan e a Rita. E mais uns bichinhos os quais tem me deixado encantada: uma arara, um louro, três cachorros, dois gatos, um jabuti e um monte de galinhas doidas.       
             No mais, acredito que consegui explicar meu sumiço. Um grande abraço em todos e antes que eu me esqueça, tenho aprendido muito por aqui, todos os dias. Não tô feliz, mas tô sobrevivendo. Busco ficar tranquila pra não pirar, porque só eu sei das dificuldades sentidas aqui. To tentando aprender com tudo e todas as pessoas aqui. Tenho sentido muita falta de qualquer coisa em Belém. O sofrimento tem sido necessário e muito valorizado por minha pessoa, mais do que tudo.

            Vou ficando por aqui. Um cheiro forte de priprioca e até a próxima.

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