segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Vivência.

                                                                                                             Ressaca, 16 de setembro de 2013.

                                         
                                                                      Retrato do celular.

            Os dias têm sido cansativos e estressantes ( lidar com os meninos de 5ª à 8ª séries tem sido um sufoco pra não dizer um inferno. E eu até subestimei, na minha mentalidade tola de que os meninos da zona rural eram mais quietos e tal, mas eu mordi a língua. A coisa tá feia aqui também... Os moleques são tão endemoniados quanto os da cidade). E a minha carga horária é extrapolação, pois trabalho os três turnos, com duas turmas em cada um.
            Começo assim: acordo às sete horas, quando a arara - a Rosa - desce do canto dela em cima do quarto onde durmo, equilibrando-se sobre minha rede, por cima do mosquiteiro, sussurrando a língua dela até me acordar. Daí eu levanto, faço um carinho nela e vou banhar no chuveiro de água frriiiiia. Depois, tomo um café e vou pra aula às 7h30. Aí, 12h volto pra almoçar e descansar um pouco até 13h30 (o próximo turno) até às 18h.
          Ao final dessas tardes,quando o sol ainda não se pôs, ando uns 400 m para a beira do Rio para obter área no celular e é quando, respiro aliviada, ao mesmo tempo em que meu coração se entristece pela distância tão extensa de família e amigos. É que tenho um curto tempo, nos dias da semana (intervalo do 2º turno para o 3º turno de trabalho), consigo ouvir a voz da minha mãe, do meu namorado. É quando, algumas vezes as lágrimas resolvem se juntar ao Xingu, quando este sopra um vento frio que arrepia os pêlos da saudade enquanto toda a minha dor pesa sobre os ombros. 
            De lá consigo sentir o cheiro forte da vida que o Xingu carrega , assistindo à grandiosos espetáculos que a vida em si, proclama: gaivotas que pescam à beira do Rio ao lado de mulheres que lavam suas roupas e louças nos girais improvisados, enquanto suas crianças banham, brincam e gritam. Os casais de araras, papagaios e pássaros incontáveis declarando a liberdade. Os calangos gigantes caçando sem o menor pudor. A Ressaca assistindo ao formidável filme real. E... eu? Apenas vislumbrando a fabulosa cena que afaga e acalenta meu corpo e meus pensamentos mais distantes.
            Volto mais aliviada, em paz para o trabalho no turno da noite, na certeza de rever no outro dia, tal espetáculo e ouvir as vozes dos meus amores.
           O sofrimento tem sido diário, os dias até têm passado rápido, quando no final das noites de trabalho, mais um dia é riscado na folhinha. Mas tenho certeza que todo esse sofrimento será recompensado um dia.
            Minha mãe mandou um celular inteligente pra aliviar um pouco toda essa distancia. Agora consigo no fb e já tenho whatshap (093 99703381) , podem me add porque eu não aprendi a usar isso ainda. E registrar uns momentos legais. 
             Outra novidade é que eu voltei às correspondências por cartas, tanto aqui no blog quanto com uma grande amiga que está morando em uma comunidade há umas três ou quatro horas de mim. Não há correio, mas um rapaz que trabalha para as escolas, sempre está indo pras estradas, o Aurélio. Nosso carteiro. 

             Até mais.






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