segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Sobre o inesperado.O prazer da docência. Alunos que surpreendem.

Sexta-feira dia 3, recebi uma ligação inesperada. Da Jaína, uma aluna da 8ª série da escola da Ressaca. Quando vi o número de código 93 fiquei surpresa, mas não imaginava quem seria ou sobre o que seria. Assim que atendi, a voz do outro lado fina e de sotaque diferenciado disse: "Oi professora? Tudo bem com a senhora? Como foi a virada?". E eu : Foi ótima , mas... quem tá falando?

-" Ah, é a sua aluna da 8ª série, Jaína. Lembra? "

Ela me contou de algumas novidades dela, da festa da formatura da turma e tudo mais. E no final disse algo que me emocionou muito. " Poxa professora, sinto muita saudade da senhora. Eu sei que é difícil , mas eu queria que a senhora voltasse pra dar aula pra gente. Aprendi muita coisa boa com a senhora. Desculpa se eu fiz alguma coisa errado pra senhora, mas eu e toda nossa turma desejamos toda felicidade do mundo pra senhora e sua família. Espero que um dia a gente se encontre."

Como não se emocionar com uma menina de 14 anos falando isso?

Tenho certeza que passarão anos e anos, mas jamais irei esquecer dos meus alunos da Ressaca. Dos meus meninos guerreiros, que enfrentavam chuva e sol esperando aquele pau de arara que levava-os à escola numa distância de 30/40km de distância. Meninos que enfrentavam a roça para trabalhar e ajudar os pais no contra turno. Crianças que brincavam de pescar, para comer. Meninos que me deram aula sobre a existência humana e sobre sorrisos.

A docência me trouxe tanto aprendizado, tanta história e tanta alegria pro meu coração. Apesar de todas as dificuldades e a distância a qual me fizeram sofrer, mas fico muito feliz em ter contribuído o mínimo possível e conseguido plantar coisas boas naquela comunidade.
Ainda estou bastante ligada à Ressaca. Passo dia e noite pensando no lugar. Em como estarão as famílias, os alunos, a Rosa, a Ritinha, o Alan. 

Guardo cartinhas que me deixaram muito comovida, fotos das aulas, objetos presenteados pelos alunos, e na o último dia em que dei aula, e tenho comigo o último dia antes de vir embora, quando os alunos me levaram até a casa de uma das alunas, pra me oferecerem um bolo de despedida e ao final, me levaram na maior festa e algazarra na rua até a porta da casa em que morei. O rostinho de cada um me abraçando e pedindo pra eu ficar mais um dia... me partiu o coração.

Antes me achava incapaz de estar ao lado de crianças em sala de aula, pela dificuldade que tenho de lidar com as mesmas, mas talvez não tenho capacidade mesmo de me envolver tanto tempo com crianças, se em 5 meses que passei, cá estou com uma saudade sufocante antes irreconhecível dentro de mim. Depois da Ressaca, me deparei com um coração amolecido demais pra essa carcaça dura a que sempre me escondi. Ou talvez não seja nada disso e sim apenas um ser humano mais humano que me tornei. E talvez esse seja o ofício mais dignificador para um ser humano.

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