sexta-feira, 22 de julho de 2011

Meu sangue, meu olhar...




















Palavras chaves: Consciência; Militância; Emoção.

Meu olhar...

Sabe quando tu vais em um posto de saúde pra tomar aquela vacina no braço e quando te aplicam, sentes aquela sensação de corpo gelado?! É como se eu conseguisse sentir o líquido da vacina espalhando em todo meu corpo. Já sentiu isso?! Não sei se entendes, mas foi exatamente isso o que eu senti neste Conune em Goiânia... Meu corpo gelou, tive arrepios brutais diante da multidão a qual eu estava envolvida. Era a oposição de esquerda que tocava meu corpo, insânia meu sangue, arrematava meus movimentos, tremulava minhas pernas , me fazia pisar em nuvens e me dava forças pra gritar minha indignação pela desordem dos governantes deste país que governam para uma minoria (burguesia).
As palavras de ordem dos indignados formaram uma harmonia sobre as tais propostas elitistas da união nacional dos estudantes. Aquela a qual se diz ter propostas para a classe estudantil inteira. Mas como? Se essa mesma união apoia nosso atual governo em seu corte de verbas da educação, o sucateamento e privatização da mesma. Como então esta União poderá me representar?
"NÃO, NÃO, NÃO ME REPRESENTA!".
Neste congresso , redescobri que realmente não tenho vocação pra ser 'emprenhada' pelos ouvidos, deixando de lado meus direitos de cidadã como qualquer outro deste país. (Porra!) Sinto muito, mas não vou me calar pras essas instituições que não lutam por um bem comum nacional. Por isso, questiono sim, cutuco sim, grito, brigo por uma forma governo igualitária, porque é um direito para TODOS. E se eu tenho direito de estar em uma universidade pública , todos têm. Sem qualquer distinção em classe social, raça, idade, sexualidade...

E quando alguém vem e questiona o porque de eu participar de um congresso cuja a idéia de sua ordem sou contra. Ora, respondo que fui a este encontro para mostrar minha insatisfação e indignação para com a UNE enquanto representante da minha classe de estudante. Desta classe que é a base para o futuro do mundo e a cada dia é vendida , sucateada e pirateada como mercadoria.
O sangue militante que meu pai colocou em meus ingredientes, se fez realmente presente nestes dias em Goiânia. Logo ele, que em meados dos anos 80 fez protestos operários no metrô em São Paulo, levou muita porrada e foi preso por questionar do governo da época, por melhorias de trabalho e salario. -Ai que orgulho deste sangue.
Estive presente desde pequena , com as lágrimas do meu pai , ao contar suas histórias de luta, seja na política ou seja na vida. Presenciei carreatas , debates , reunião em comícios de uma esquerda VERMELHA que decepcionou o país inteiro, e que acreditava em sua integridade. -Depois disso, fiquei desacreditada de qualquer proposta revolucionária para o Brasil. Já achava que não tinha mais jeito.
Mas neste Conune, minha vontade de mudança voltou com caralho. Percebi olhando para os lados, que eu não estava sozinha, e que eu tinha a oposição de esquerda da UNE inteira do meu lado, gritando, buscando energia do âmago pra continuar lutando. Via nos olhos de cada companheiro, um brilho de luta iluminando caminhos de igualdade social, trilhando vitórias para o nosso Brasil...

"Sou estudante, sou radical. Não sou capacho do governo federal."

Por isso fomos mostrar nossa cara. Mostramos nossas palavras de ordem para a majoritária que não tem interesse em nos dar a vez para falarmos sobre nossa real problemática e questionar do porque de tanto corte na educação pública. Fomos receber o ex-presidente com palavras de ordem que criticavam seu governo e do atual diante do descaso para a classe estudantil e trabalhadora. E que se deve discutir formas consistentes para a preservação do meio ambiente, saúde, transporte...

"UJS, NÃO LEVE À MAL: O GOVERNO LULA DEU O VETO NO PRÉ-SAL"

Inclusive, em uma das salas de discussão, o tema era "Meio ambiente", e houve um boicote canalha da majoritária ao colocarem este tema tão polêmico em um auditório muito pequeno, o que acabou não havendo debate, pois nós da oposição, queríamos participar do debate. Então, revindicamos nosso direito de participar da discussão e fizemos barulho na porta do auditório, pedindo que o debate fosse fora, se possível na rua. Mas, a majoritária retirou-se da mesa de discussão e recusou-se a prosseguir com o debate.
Assim, mais uma vez a direita provou o quão é incapaz de debater civilizadamente e decentemente sobre políticas públicas.
Fora o boicote com nosso alojamento, que era longe pracaralho do lugar onde acontecia o evento.
Pois é, passamos por maus bocados até chegar lá: (Onibus , dinheiro, comida...)

Mas não foram esses 'probleminhas' que nos detiveram. Mostramos nossa cara e nossa indignação. Mostramos nossa radicalização de 'caras pintadas' e de nortistas que quase sempre são esquecidos e intitulados de má educados. Peraí, mas somos mal educados por exigir uma distribuição de renda igualitária? Por exigir descentes serviços públicos? De ir contra à devastação das nossas florestas? Da construção de Belo Monte ? É isso que é ser mal educado?
Ahhhh, então SOMOS SIM. E vamos continuar sendo, então. Porque se ser civilizado é escutar calado e aceita essa política elitista, eu to fora, belezeira?!

"E a direção majoritária da UNE não os discute. Não mobiliza, não luta como antigamente, na época da Ditadura, das Diretas Já, dos Caras-Pintadas, do Fora Collor. São vinte anos de imobilidade! De UJS na direção da UNE. A independência da entidade está completamente perdida para o governismo e para a propaganda do status quo. Exatamente como o meu coletivo estudantil havia me alertado e como pude constatar, assistindo de perto!"

Eduardo Rodrigues -Militante do Vamos à Luta - Belém-Pará.

Disse tudo Edu.

"Ahhhhh, mas que saudade, de quando a UNE lutava de verdade."

"Ô ô ô ô Dilma não tem vergonha?! Contrói Belo Monte e destrói a Amazônia."

Bem, mas se em uma época foi possível haver revoluções nas ruas do nosso país, acredito que ainda poderá haver. Ora, trazemos no sangue um passado de povo sofredor e escravo que se fodeu muito até chegar nos dias de hoje, mas só progrediu com as lutas pelas melhorias. É que , como diria Nietzsche "não existe um caminho reto até o topo. E sem sofrimento, não há vitória, não há aprendizado."
Só não podemos estagnar. E hoje digo, que faço parte de um povo que reclama sim da política instalada, dessa má organização no meu país, mas diferente de outros, luto por mudanças.
Termino agora com uma metáfora de Nietzsche que diz que devemos nos espelhar nos jardineiros. Um jardineiro depara-se com plantas cujas raízes são horríveis, monstruosas, mas o resultado que se obtém delas é sublime! Não há uma bela flor que não tenha uma raiz horrorosa. E é assim que devemos nos comportar, transformando a dor e o sofrimento (a raiz horrorosa), em algo belo (a flor), e proveitoso para nossas vidas.

Vamos à luta!

Post scriptum: Agradeço a cada membro do Coletivo Vamos à luta, a qual visto a camisa hoje , com muito orgulho.

Obrigada caralhõn! Amo vocês.

s2





2 comentários:

  1. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
    E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
    Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

    um poema do brecht para dizer q fiquei mto em feliz em ler "estes olhares"...

    denis

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  2. Lembro do teu depoimento na viagem de retorno. Eu escutei o início com um sorriso no rosto e terminei cheio de lágrimas nos olhos... é ótimo ver que nós, da juventude, não seremos aquele amontoado de corpos-mercadoria que querem que sejamos.

    Beijo na alma :*

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