segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Abandono./


[Em momentos de desvairismo, solidão ou algo desse tipo, é que a imaginação se liberta... ]


Tinha cor roxa a lembrança. Cheirava a rosa o tempo. Quase dormia a saudade.
E gritava a solidão de dor.


Ela, a mulher madura de dois quartos de vivência em um século, comovia qualquer um, sentada no banco daquela praça solitária, guardada por sonhos, e que fazia lembrar os risos de um passado que tão pouco falava de futuro e mais vivia o presente.
Ela, relembrava um antepassado de amantes, de vinhos, homens, de tudo aquilo que mais lhe vazia sorrir...
Porém, o pensamento é traiçoeiro e por isso, quase não se lembrava dos rostos, mas recordava perfeitamente de toda a poesia que sentia a cada sensação de prazeres daqueles dias.
Ainda podia sentir aquela forte palpitação da musculatura interna da coxa e aquela coisa molhando a calcinha de forma a lhe deixar um sorriso sacana na face. Seus pensamentos lhe avisavam que o tempo só havia lhe deixado em brasas e pronta para ser posta em chamas que queimasse o mundo inteiro em um único e leve sopro.
O ardor para dentro das veias paradas as quais empurram os glóbulos brancos e vermelhos, sentia a velinha de 80 anos naquele banco, sozinha...
Abandonada pelo financiador cafetão filho da puta, porque não tinha mais forças para foder e por isso já dava prejuízos de gastos e tudo mais.
Maria é o nome da madame, que tanto tempo era procurada e disputada por todo aquele puteiro esfomeado pelo gozo.
Dentre as putinhas de meia idade, a puta Maria dos pilares era a mais experiente e tinha voz, pois nenhuma profissional do sexo podia reclamar ali, a não ser ela. Tinha toda autonomia, confiança e autenticidade para com os clientes e para o tal cafetão filho da puta.
Considerava-se feliz, só por ver seus clientes satisfeitos e gozando de seus prazeres ofertados por ela... Mas o tempo é desgraçado e não é amigo de jeito algum. Apenas faz passar as lembranças e até esquecer as dores, mas faz a gente esquecer de rostos também.
A velinha, apenas lamentava seus prazeres passados. Além do mais, nada podia fazer contra aquele tempo maldito.
E todos os dias, a puta abandonada, sentava na praça e esperava sua memória retornar com rostos que lhe fizeram tão feliz.
Veria assim, que de tanto andar em busca encontraria o mais esperado dos seus dias.
A morte é o que lhe resta, diante daquele ócio de puta sem serventia.

Mas é que tudo na vida , tem início , meio e fim!

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